domingo

"LER DEVIA SER PROIBIDO " ???

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Afinal, assim não seria um teste.
MARIA TOMA BANHO PORQUE SUA MÃE DISSE ELA DÊ-ME A TOALHA.
Não olhe a resposta antes de tentar acertar, porque assim não vale...


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RESPOSTA:

Maria toma banho porque sua. Mãe, disse ela, dê-me a toalha.
A "ratoeira" está no facto do uso do verbo suar, confundindo com o pronome possessivo (sua)... A Língua Portuguesa é muito traiçoeira.
Nota: Bahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!! Não consegui acertar!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira

Para reflexão

" A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, importante não era comer, mas voar."Porque , "Vê mais longe a gaivota que voa mais alto.

Richard Bach, in Fernão Capelo Gaivota

segunda-feira

Amor entre linhas

APRESENTAÇÃO

Estamos na UTIARPE, numa aula da disciplina de Língua e Cultura Portuguesas. A propósito, devassam-se textos, escritos na intimidade, de Fernando Pessoa, José Gomes Ferreira, Cardoso Pires, Lobo Antunes, entre outros. Apela-se à produção de texto, mais propriamente, pede-se aos alunos que escrevam cartas, se possível, de amor.

Está lançado o repto.

Não nos deteremos, por isso, sobre o que são ou poderiam ser estas cartas. Cada um há-de lê-las sob perspectivas diferentes.

O que aqui se publica é a expressão espontânea e a partilha de sentimentos fortes, experimentados por gente que já foi jovem, há mais ou menos tempo, arrebatada pelas intempéries do amor .

Transcreveram-se, quase integralmente, os textos originais e respeitou-se o anonimato, quando foi esse o desejo expresso. Enriqueceu-se a ideia de criar futuramente uma brochura com textos de alguns autores consagrados, pequenas pérolas da nossa literatura, demonstrando que também eles, em dado tempo, escreveram, no recolhimento da sua paixão, cartas de amor.

Vamos juntar esses textos aos nossos escritos.

Como introdução aqui damos conta …

8 /03/2010


A PALAVRA AOS MESTRES


Carta escrita por Fernando Pessoa a Ophelia Queiroz , em 27/04/1920

“Meu Bebezinho lindo:

Não imaginas a graça que te achei hoje à janela da casa de tua irmã! Ainda bem que estavas alegre e que mostraste prazer em me ver (…)

Tenho estado muito triste, e além disso muito cansado – triste não só por te não poder ver, como também pelas complicações que outras pessoas têm interposto no nosso caminho. Chego a crer que a influência constante, insistente, hábil dessas pessoas, não ralhando contigo, não se opondo de modo evidente, mas trabalhando lentamente sobre o teu espírito, venha a levar-te finalmente a não gostar de mim. Sinto-te já diferente: já não és a mesma que eras no escritório. Não digo que tu própria tenhas dado por isso; mas dei eu, ou, pelo menos, julguei dar por isso. Oxalá me tenha enganado.

Olha filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer : não vejo o que vai haver, ou o que vai ser de nós, dado, de mais a mais, o teu feitio de cederes a todas as influências de família e de em tudo seres de uma opinião contrária à minha. No escritório eras mais dócil, mais meiga, mais amorável.

Enfim…

Amanhã passo à mesma hora no largo de Camões. Poderás tu aparecer à janela?

Sempre e muito teu

Fernando (27-04-1920)”


Ophelia Queiroz – única namorada de Fernando Pessoa

F.Pessoa conheceu Ophelia Queiroz, em 1920, no escritório Félix, Freitas e Valladas, Lda., situado na Rua da Assunção, em Lisboa.

Ophelia Queiroz tinha 19 anos e, contrariando a família, resolvera empregar-se. Respondeu a um anúncio do Diário de Notícias e foi admitida na firma. Fernando não trabalhava na firma, mas ajudava o primo , um dos sócios, como correspondente, e no dia em que Ophelia se apresentou no escritório foi ele que a recebeu. Passados dias começou o namoro.

Pela leitura do livro Cartas de amor de Fernando Pessoa, estruturado e organizado pela sobrinha neta de Ophelia Queiroz, Maria da Graça Queirós, apercebemo-nos que ele era de uma intensa ternura com ela. Encontravam-se quase todos os dias e escreviam assiduamente.

A própria Ophelia conta:

“Foi um namoro simples, até certo ponto igual ao de toda a gente, embora o Fernando nunca tivesse querido ir a minha casa, como era habitual da parte de qualquer namorado. Dizia-me “Sabes que é preciso compreender que isso é de gente vulgar, e eu não sou vulgar”. Eu compreendia-o e aceitava-o exactamente assim, tal como ele era. Por exemplo, dizia também muitas vezes:”Não digas a ninguém que nos namoramos, é ridículo. Amamo-nos”

Passeávamos e conversávamos acerca de tudo, das coisas mais simples. De poesia, dos livros que lia, das suas aspirações, da família.”

Olga Magalhães e Fernanda Costa, in Entre Margens. Português.10ºano, Porto Editora, 2000


Num texto autobiográfico, José Gomes Ferreira

relata-nos a sua primeira história de amor

Tinha então 7 anos…

Graças a uma palavra, a um nome horrendo – Joaquina -, ainda hoje consigo lembrar-me do primeiro ser feminino que me aturdiu com o seu enleio de adivinhação sexual, não sei em que escola infantil nos escombros do tempo.

E sorrio ao recordar-me da maneira como a sôfrega me afogava o pescoço de ternura cálida, como se colava ao meu corpo de miudinho perplexo e me oferecia, numa dádiva de idílio sujo, dropes, sabonetes, lápis, aparos, borrachas, olhos suados, anelos de impureza límpida.

Recordo-me e sorrio dessa névoa ofegante em forma de esboço de fêmea que me queria por motivos alheios a si própria – com o mesmo ímpeto que leva os insectos a dourarem-se de pólen.

E de tudo isto o que resta ? Uma palavra apenas. E ridícula.

- Onde estás Joaquina ?

(…)


Será Mariana Alcoforado ou Soror Mariana

a autora das mais belas e apaixonadas cartas de amor ?

Mariana Alcoforado, mais conhecida por Soror Mariana, nasceu, em Beja, em 1640 e morreu nesta mesma cidade, em 1723.Foi obrigada pelo pai a entrar com apenas onze anos, para um convento, como forma de protecção de brutais conflitos originados pela guerra com Espanha. Mariana submete-se à vontade do pai, mas anseia libertar-se da clausura e regressar ao seio familiar. Um dia conhece um jovem e belo oficial , que chegou à cidade no regimento francês. A troca de olhares conduziu ao encontro e Mariana, com quase vinte anos deixa-se dominar por uma cega e inflamada paixão. O capitão Bouton introduz-se secretamente na sua cela, durante

várias noites seguidas, dando-lhe a conhecer o amor físico e proporcionando-lhe o primeiro grande êxtase da sua vida. A notícia rapidamente circula e provoca um enorme escândalo. Bouton é mandado regressar a França e Mariana, completamente destruída, escreve-lhe, sem resposta, cartas extraordinariamente belas e apaixonadas.

_ _ _ _ _ _ _ _

Ignoro por que motivo te escrevo…

Vejo que apenas terás dó de mim, e eu rejeito a tua compaixão, e nada quero dela;

Enfado-me contra mim mesma, quando faço reflexão sobre tudo o que te sacrifiquei…

Perdi a minha reputação; expus-me aos furores de meus pais e parentes, às severas leis deste Reino contra as religiosas… e à tua gratidão, que me parece a maior de todas as desgraças

(…)

Vi-te partir, nenhumas esperanças posso ter de mais ver-te e ainda respiro!... É uma traição…

Peço-te dela perdão.

Mas não mo concedas…

Trata-me rigorosamente

Não julgues os meus sentimento veementes…

Sê mais difícil de contentar…

Ordena-me nas tuas ca

rtas que morra de Amor por ti…

(…)

Muito quisera nunca ter posto os olhos em ti.

Ah! Sinto vivamente a falsidade deste sentimento, e conheço neste mesmo instante em que te escrevo, quanto prefiro e prezo mais ser infeliz amando-te, do que não te haver jamais visto.

Cedo sem murmurar à minha malfadada sorte, já que tu não

quiseste torná-la melhor. Adeus.

Promete-me de conservar uma terna e maviosa saudade de mim, se eu falecer de dor; e assim possa ao menos a violência da minha paixão, inspirar-te desgosto e afastar-te de tudo!

Esta consolação me será suficiente, e, se é força que te abandone para sempre, desejara muito não deixar-te a outra.

(…)

Excertos de carta que Mariana Alcoforado dirigiu ao capitão francês Bouton


Camilo Castelo Branco

- o autor de Amor de perdição

envolvido em paixão misteriosa


Documentos recentes, inéditos, encontrados e estudados por Manuel Tavares Teles, revelam um pouco mais da vida íntima de Camilo. Conhece-se a paixão por Ana Plácido, Isabel Cândida ou Fanny Owen, mas Gertrudes, Gertrudes da Costa Lobo ? Na verdade trata-se de uma dama, conhecida por “uma mulher que gostava de poetas”, e que viveu um exacerbado amor por Camilo. Era também poetisa e colaboradora de jornais do Porto, que assinava sob pseudónimo. Morreu tísica, em 1859, fim “adequado” aos amores infelizes do período ultra-romântico.

No excerto desta carta, publicada recentemente no Diário de Notícias , Gertrudes evoca o primeiro encontro com o seu amado, num cemitério, cenário macabro, tão ao gosto da época.


Carta V

(Porto, primeiros dias de Junho de 1854)

Não sei ainda como se passou aquela hora que passei a teu lado dominada por duas emoções opostas, sentindo-me vacilar e tremer, e experimentando ao mesmo tempo a mais perfeita segurança. Recolhi no coração todas as tuas palavras; recordo-as, medito-as: algumas desalentam-me, e outras fazem-me antever a realização d’uma esperança que me embriaga. Quando me disseste que te não amo; concebi-me pequena e vulgar; porque o meu amor é a única superioridade que me reconheço, e que me coadjuva uma soberania que me eleva até junto de ti. Houve um momento em que senti a dominar-me uma tão desmedida ambição… em que me deslumbrou o brilhantismo d’um tão glorioso destino! Tens amado pouco, e és céptico pelo coração. Compreendes, Camilo, o que poderia sentir a mulher que te ama com um amor imenso, ouvindo-te aquelas palavras que, lhe fariam esperar tudo no futuro, visto que o passado fora tão pouco ?...

Restituir-te a crença; fazer-te sentir o verdadeiro, o único, o imenso amor que a tua alma pode, e deve necessariamente sentir, uma vez na vida ! Compreendes, diz, meu amigo, o que isso deveria ser para o meu coração ? E todavia não te disse nada: O que te dissera eu se falasse? (…)

Camilo, ali, crê-me, houve um instante em que o meu coração escutou do teu alguma coisa que lhe deu muito sofrimento, muita vida e muita esperança; foi junto ao túmulo da Dula que encontrei n’um olhar teu, melancólico, a expressão d’uma saudade indefinível pelo amor para sempre morto, ou d’um vago desejo de amar com um amor de que principiavas a sentir as primeiras agitações!

Não me chames sentimentalista; mas olha, desejei morrer então. Se me amavas naquele instante, ainda que não tivesse senão a duração do relâmpago, essa luz brilhava na minha vida, e apagada, o que me restava a fazer na terra ? Se me não amavas, tinhas amado já (…)

Não motejes esta espiritualidade a que tu chamaste bonita, e crê que, já há muito que sou tua com essa posse , que iremos mutuamente completar no céu, uma vez que na terra o dizes impossível.


Carta de Gertrudes da Costa Lobo a Camilo (excerto),

in Os Manuscritos de Gertrudes, publicada no Diário de Notícias – Letras-16/17, de 2/02/2007

amor entre linhas


Bibliografia consultada

ALCOFORADO, Mariana- site: soror mariana

ANTUNES, António Lobo, D’este viver aqui neste papel descripto- cartas de guerra, Dom Quixote, Lisboa, 2005

MAGALHÃES, Olga e COSTA, Fernanda, Entre Margens , Português – 10º ano, Porto Editora, 2005

TELES, Manuel Tavares, Manuscritos Gertrudes, in 6ª- suplemento do Diário de Notícias, 2 /02/07


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Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente ridículos).

Álvaro de Campos, Poesias de Álvaro de Campos, Ed. Ática, 1978


Em Página Anexa

Seguem as cartas de amor escritas por alunos